terça-feira, 24 de março de 2009

A criatividade por escrito

Há dias comentei a criatividade de Chaplin em roteirizar, sem usar som, uma cega confundindo um mendigo com um milionário. Lembrei agora que Tatiana Belinki (foto) viveu, com o marido Júlio Gouveia, impasse igual ao dividir o Mar Vermelho na era da TV a lenha. O Teatro da Juventude, da Tupi de 1950, encenava Moisés. Ao vivo.

Solução: dois assistentes, um ante o outro, despejam simultaneamente a água de dois baldes. Filmada em 16 mm, a imagem foi projetada no palco, de trás para frente. Momentos assim estimulam, mas não há criatividade que não se facilite por treino. Em A Arte da Ficção (Civilização Brasileira, 1997: 267-9), John Gardner traz exercícios. Uma palhinha:

1. CRIAR SUSPENSE: Faça um parágrafo logo antes da descoberta de um corpo. Descreva como o personagem se aproxima do cadáver, ou o local, ou ambos.
2. DESCREVER PAISAGEM: Descreva uma cena vista por uma velha cujo marido repelente morreu. Não cite marido ou morte.
3. CRIAR DIÁLOGO: entre duas pessoas, cada qual com um segredo. Não conte o segredo. Um marido perde o emprego e hesita contar à mulher; ela tem um amante escondido no quarto.
4. SEM COMPARAÇÃO: Descreva alguém por meio de objetos, paisagem, tempo, mas sem usar comparações (“Ela era como...”).

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