Há um cacoete comum na retórica da crítica cultural de atribuir a qualidade de uma obra a fatores externos à obra. A vítima da vez, na imprensa paulista e carioca (não vi as demais), é Gran Torino.
O "principal interesse" do filme de Clint Eastwood, dizem os críticos, seria a releitura da carreira que o papel de Walt Kowalski teria permitido ao ator-diretor. O protagonista reacionário de Gran Torino redimiria o inflexível Harry e outros papéis de reaças implacáveis, que Eastwood fez ao longo da carreira.
É uma injustiça a Eastwood e ao filme. Gran Torino é sim um taludo filme com um grande ator (Eastwood) a serviço de um diretor de direita (o mesmo Eastwood) disposto a demonstrar que a turma do rifle também é gente.
O roteiro do filme conta a história que tem de contar enquanto deixa os personagens respirarem, com folga de cenas para cada um. Mas não perde a noção de conjunto nem de consistência e reserva uma pequena quebra de expectativa para o fim, cerejinha.
Enfim, um ponto muito além da mera revisão de carreira.
segunda-feira, 23 de março de 2009
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