sexta-feira, 27 de março de 2009

Os índios sem-nome

A Unesco lançou relatório sobre línguas em extinção. O Brasil é o terceiro com mais idiomas em risco. Já 12 foram extintos dos 190 registrados no país. A maioria está ameaçada, vulnerável, como a língua dos xavantes, no Mato Grosso, que tem só 13 mil falantes.

Em 2005 recebi a notícia de que 86 crianças com menos de 1 ano de idade haviam morrido de fome nas aldeias xavantes, em dois anos. Nada indica que o quadro de fome mudou, desde então.

A morte de uma língua é a de um modo de ver o mundo. O caso xavante é ilustrativo da visão de mundo em forma de idioma.

Bebês xavantes não têm nome. É carga pesada demais para um corpo frágil. Se ganharem um, podem adoecer e morrer. Não raro, só com 2 ou 3 anos ganham resistência para suportar o peso de uma identidade. Até então, todo homem é chamado de menino (“watebremi ñi tsi”) e toda mulher, menina (“ba’õtõre ñi tsi”), informa Aracy Lopes da Silva, em Nomes e Amigos: da prática xavante a uma reflexão sobre os jê (FFLCH-USP, 1986).

Os nomes dos xavantes são associados à evolução da pessoa, ao seu desenvolvimento interior e à idade, que identifica a quantidade de força vital útil à comunidade. Um xavante acaba sua vida como começou: sem nome. Há homens que, ao longo da vida, recebem até 8 nomes.

Algumas crianças xavantes talvez não tenham essa sorte.

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