Cada edição mostra o esforço da indústria de sintonizar a linguagem mirim do momento. Flagra-se, com isso, o domínio de linguagem que cada época (e seus adultos) atribui à garotada.


Há mudanças que sugerem vigências sociais de época. Em 58, Huguinho, Zezinho e Luizinho chamam Donald de “senhor”; em 2004, de “você”.
Mudanças conceituais no léxico revelam convivência com ideias de cada geração. Já no primeiro quadro, só a partir de 1982 surge a palavra “poluição” numa fala de Patinhas. Em 58 e 67 era "neblina”. Nesse quadro há uma fórmula hoje não usual: "ir ter”, em 58 e 67: “Tio Patinhas vai ter às terras do Norte”, substituída por “vai às terras do Norte” em 82 e 88.
A tendência do léxico das edições antigas era a de palavras mais cultas. Comparando 58 a 2004: “Ademais” x “Além disso”; “ambrosia” x “perfume”; “Que pretende caçar?” x “O que vai caçar?”; "Acampam num aprazível banco de areia" x "Acampam numa barra arenosa".
Há diferença de repertório literário. Os nanicós falam por versos (A Canção de Hiawatha, de Henry Wadsworth Longfellow). As edições pré-2004 a trocam pela Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias. Já 2004 opta pelo obscuro e servil decalque.
Suspeita-se que não é o nível da criançada que declinou em cinco décadas. Mas o da indústria cultural que a abastece.
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