Na historia das línguas, há sempre confronto entre as forças de mudança e as de repressão.
No início do século 20, mesmo um linguista de estirpe como Mario Barreto (1879-1931) condenava verbos então recentes, como “revolucionar” e “solucionar”, por já existirem os na época consagrados “revolver” e “solver”.
Como sabemos, ele não teve sucesso, porque a sociedade fala mais alto. O combate a novas formas pode frear a criação descontrolada (lembre a retração de “a nível de”), mas não é capaz de impedir a criação de inúmeras outras formas.
Língua não é só código produtor de sentido, é também social. Não é mero sistema formal, mas corrente de significados em comum.
Muitas inovações populares nem sempre se configuram como aberração linguística, mas escandalizam por serem socialmente micadas. E terminam rejeitadas.
O erro de português pode revelar, não raro, um pensamento influenciado por outra lei gramatical.
Quem opta por “houveram problemas" talvez se fie em “ocorreram problemas”. Se há “garfo” (e não “galfo”), pensa-se, decerto haverá “tarco” (talco); se há “pomar” (não “pomal”), há “carreter” (carretel). E “entrega a domicílio” soa estranho a quem crê que não se entrega “à casa”, mas “em casa” (pela razão que não se “monta a cavalo” por não se “montar a burro”). Daí a preferência pelo condenado “entrega em domicílio”. Mas, enquanto houver incômodo comum, talvez tais deslizes não se fixem no idioma.
A norma gramatical é o costume social dominante. Alguns costumes passam ao sistema da língua, outros não. Há construções recentes que podem se consagrar, ao modo de “Esta varanda bate sol à tarde” ou “Moro subindo essa rua” (exemplos de José Carlos de Azeredo, da Uerj). Ou “Quem aqui o pai fuma?”, dito pelo governador José Serra (acenando acima) numa escola de São Paulo (exemplo de Sírio Possenti, da Unicamp: há idiomas, lembra ele, com estrutura “sujeito-predicado” e outros com “tópico-comentário”. Já o português é misto: em “O Brasil, ele também está em crise”, “Brasil” é o tópico da oração e “ele também...”, o comentário. Daí a construção ter pinta de incorreta, mas ser sintática e socialmente aceita).
Desconfia-se que esses tipos de construção sejam incorporados à gramática do brasileiro médio. Ao fim, ele é quem ri por último.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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