O adjetivo virou o primo pobre do substantivo. Em manuais sobre técnicas de escrita, é o vilão das frases. Cortá-lo de um texto, assim como arrancar advérbios e tudo o que encha linguiça, é regra no jornalismo e na administração, sob a alegação de que não alteram a estrutura da frase e o texto fica mais legível com vocábulos sem nuanças e margem para dúvidas. Em raciocínios mais demorados, são considerados mais difíceis de registrar na memória que os substantivos, os termos de relação ou os verbos.
Parte-se do justificável princípio de que quem nos escuta deve ter a mais fiel descrição do que é apresentado, sem ser colocado numa zona de incerteza, como fazem os adjetivos e advérbios que implicam juízo de valor (dizer “bonito/feio” sob o critério de quem, cara pálida, de quem fala ou de quem escuta? Afirmar que “absolutamente” algo ocorrerá é não garantir grande coisa).
Tal princípio, usado indiscriminadamente, criou uma fobia ao adjetivo. Mas ele pode, sim, ser usado para tornar uma descrição mais precisa. “Um cavalo velho e ferido, com cauda macerada” não é o mesmo que dizer "um cavalo com cauda". A intenção de quem enuncia é que pode ditar se uma nuance deve ou não ser eliminada, se é mais preciso qualificar o que se diz ou dizê-lo, simplesmente (o que também é afirmação adjetiva: como saber que uma nuance é necessária?).
Há sempre quem se possa inspirar em Frei Betto (Caros Amigos, novembro de 2002, na foto) e avaliar que quem se dispõe a ser compreendido por todo tipo de gente, e não só por uma elite, deve fazer raciocínios ricos em sinônimos, não necessariamente pobres em adjetivos. É ser capar de não apenas constatar genericamente que a situação social está ruim, mas descrever os sintomas desta situação.
Com adjetivos, se necessário.
terça-feira, 26 de maio de 2009
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