
Nada como um acordo ortográfico atrás do outro. Por anos, Cartola (1908-1980) amargou como equivocado um verso do antológico samba
Fiz por Você o que Pude:
Perdoa-me a comparação, mas fiz uma transfusão
Eis que Jesus me PREMEIA
Surge outro compositor, / jovem de grande valor
Com o mesmo sangue nas veias
Cartola gravou a canção no disco
História das Escolas de Samba – Mangueira (1974). Por força da rima, conjugou “premiar” fora do padrão. Constrangido no estúdio, quis corrigir o verso, mas o produtor que o alertou achou que a troca macularia a fluência da letra. Agora, com a nova ortografia, tanto faz “premia” ou “premeia”. Verbos ligados a substantivos com as terminações átonas
-ia e
-io admitem duas conjugações (negocio / negoceio).
Mais detalhes, no especial que acabei de editar para a revista Língua. Mas, regra geral, os verbos em
-ear e
-iar, no presente do indicativo e nas formas daí derivadas (presente do subjuntivo e imperativo) ganham
i por terem flexão rizotônica (a tônica cai numa sílaba do radical da palavra: delinear = delineio); ou terem a letra na palavra que a gerou: cear = ceiam, ceio. Falamos que alguém “mediou” uma mesa de reunião (e não “mediu” a mesa); então esse alguém “medeia” a reunião.
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