sexta-feira, 24 de abril de 2009

A antropofagia fonética do Maranhão

A jornalista Flávia Perin, então aluna de uma de minhas oficinas de redação, foi quem me chamou atenção para o fenômeno, flagrado acima pelo fotógrafo Meireles Jr. para a revista Língua. A capital do Maranhão, São Luís, virou a “Jamaica brasileira” porque o reggae reina nos bares, nas rádios, na preferência e na linguagem da população, desde 1985.

O efeito mais curioso dessa predileção é a "antropofagia fonética" que traduz o inglês jamaicano em genial nordestinês.

Como a maioria da população não tem familiaridade com a língua inglesa, mas adora reggae, as músicas do gênero são por lá chamadas de “melôs”.

Bad Reputation virou Melô da Cabra. Pois, de tanto o cantor Monty Montgomery repetir a palavra "bad" estendendo a vogal (/béééééd/), associou-se a música ao berro do animal.

White Witch, de Andrea True Connection, é o Melô do Caranguejo por causa da frase "white witch will gonna get you..." (“gonna get you” soa “ganaguejou”, daí variar para “garaguejo” até ser pronunciado como “caranguejo”).

O nome original de um melô jamaicano passa por uma acomodação fonética, cada reggae rebatizado segundo a sonoridade da letra.

A paródia do inglês macarrônico acabou virando traço cultural.

Um comentário: