A chamada mostra que não é todo exemplo que dá a entender de primeira que o “para” é forma verbal, não preposição. Afinal, o que se está dizendo é que a montadora dá férias a 7 mil operários e a uma fábrica? Ou que dá férias aos trabalhadores e paralisa a unidade no ABC?
A queda do sinal diferencial de “para” jogou para o contexto a fatura do entendimento. A reforma de 1971 fez o mesmo com “sede” (querer água) e “sede” (local), que tinha acento e desde então lançou ruído sobre frases como “A sede de vingança está no coração”, muito citada nas palestras de Evanildo Bechara. Mas todo mundo sobreviveu.
O título do jornal tem o mérito adicional de nos lembrar que as mudanças de grafia terão impacto distinto.
Umas serão questão de hábito – um incorporar à custa de treino, que está na extinção do acento em ditongos ei (ideia) e oi (asteroide), e do trema.
Outras só vão armar confusão, como as regras do hifen.
E há os tributos ao contexto, como "para". Por um tempo, vamos bater cabeça em algumas sentenças. Mas não será um deus nos acuda, nem a Mercedes estará melhor preparada para a crise global por causa disso.
O fato é que a interpretação do título não é imediata. Como todo jornal quer sempre comunicação imediata, seria preferível outra formulação, não? Ou isso é cisma barata? Das que só interessam a tecnocratas do consumo, que sempre tomam por baixo a massa encefálica da raia que alimentam. Talvez a imprensa é que subestima a capacidade de esforço adicional de seus consumidores, e sua sede (não "sede") de decodificação imediata seja não só infundada como neurótica.
Umas serão questão de hábito – um incorporar à custa de treino, que está na extinção do acento em ditongos ei (ideia) e oi (asteroide), e do trema.
Outras só vão armar confusão, como as regras do hifen.
E há os tributos ao contexto, como "para". Por um tempo, vamos bater cabeça em algumas sentenças. Mas não será um deus nos acuda, nem a Mercedes estará melhor preparada para a crise global por causa disso.
O fato é que a interpretação do título não é imediata. Como todo jornal quer sempre comunicação imediata, seria preferível outra formulação, não? Ou isso é cisma barata? Das que só interessam a tecnocratas do consumo, que sempre tomam por baixo a massa encefálica da raia que alimentam. Talvez a imprensa é que subestima a capacidade de esforço adicional de seus consumidores, e sua sede (não "sede") de decodificação imediata seja não só infundada como neurótica.
Meu caro Luiz,
ResponderExcluirsabemos que a reforma ortográfica vai confundir muita gente, principalmente porque o forte do nosso povo realmente não é a leitura. Aqui em Alagoas, entre vários pioneirismos ruins, temos São José da Tapera, a 250 km de Maceió, no Sertão, como a cidade com maior número de analfabetos no Brasil (proporcionalmente). É só um exemplo de como teremos dificuldades para implantar um acordo linguístico que prioriza as malditas exceções (forma e fôrma é facultativo. E porque quatro tipos de porques?). É preciso aceitar que a mudança é gradativa.
Na Língua de fevereiro, por exemplo, na página das Frases, saiu um "ideias" com acento. Esse é o tipo de coisa que acontece no processo de construção da informação. Quanto ao jornal Folha, penso o seguinte: já que eles se propuseram a seguir a nova lei, não seria convencional mudar alguns textos para melhorar o entendimento imediato do leitor. Talvez seja a única maneira de ele perceber que as palavras realmente mudaram. Que é preciso mais atenção. Um ponto positivo é que (acredito)desperta um pouco o senso crítico do leitor. Por talvez não entender de imediato, ele pare e reflita. É improvável, mas não impossível.